*Colaboração Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN
Começou a corrida eleitoral e, com ela, o espinhoso e polêmico tema do
aborto. De um lado, a pavorosa pressão midiática que mantém inflexível a
conivência intelectual perversamente progressista em relação a estes temas
delicadíssimos. E é importante que se diga que a força dessas posturas
progressistas está na maquiagem humanista dos valores invertidos pelo
utilitarismo.
De outro lado, é unânime a rendição tácita dos candidatos à manutenção
da legislação em vigor, a tal lei apelidada de ‘Cavalo de Tróia’. Aquela que
prevê o aborto nos casos de risco de vida da gestante, de gravidez nos casos em
que simplesmente se declare violência e de bebês anencéfalos (com má formação
cerebral).
Esta rendição dos presidenciáveis, muito para além do eventual relativismo
moral e ético de cada candidato em relação a temas tão controversos, tem uma
razão de fundo inegociável: quem se posicionar claramente contra o aborto, por
exemplo, será simplesmente achincalhado. Não pela opinião pública (visto que a
maioria da população segue sendo contra o aborto), mas, será politicamente
despedaçado com o ataque sistemático promovido pelos formadores de opinião
pública.
Se os candidatos estão todos rendidos a essa eugenia prática – por
“livre e espontânea pressão” – então, como a consciência cristã poderá escolher
quem os represente, se a lista de representantes está, de ante-mão, cooptada
contra os interesses da representação?
Dito de modo mais simples: não há ‘ficha limpa’ que dê jeito nessa
mancha política que se instalou na disputa presidencial. “Se correr, o bicho
pega. Se ficar o bicho come”. Esse é o panorama real em que desenrola o pleito
eleitoral de 2014, engessando a consciência eleitoral que deveria ser livre,
mas, na prática, é encabrestada.
Se voltarmos à disputa presidencial de 2010, recordaremos que a
polarização do tema do aborto foi apresentada de forma tão emblemática,
controversa e agressiva que causou um desconforto enorme à CNBB. A Igreja
Católica não pode autorizar ou instruir a consciência de seus fiéis a votarem
em candidatos confessadamente abortistas, sob pena de que suas autoridades e
fiéis fiquem sujeitos à excomunhão automática. E também não consegue caminho
alternativo para abordar a questão sem transformar o debate presidencial num
campo de guerra sob o fogo cruzado do ódio midiático antirreligioso. Está,
literalmente, entre a cruz e a espada.
Há um impasse prático, efetivo e sem nenhuma perspectiva de solução no
curto prazo, a meu ver.
O esforço do ‘ficha limpa’ para ética política e pública e a formação
moral dos fiéis – obrigação de profissão de fé das lideranças religiosas –
sugere aos eleitores que escolham os candidatos a partir de sua integridade
ética e do comprometimento com os valores cristãos. Mas, fica uma pergunta
inquietante. Como escolher entre os presidenciáveis que: ou têm convicções
pessoais abortistas (ainda que em casos de exceções) ou aderem a elas coagidos
pela força esmagadora do relativismo moral geral instalado no sistema inteiro?
Como eu disse, “se correr o bicho pega e se ficar o bicho come”. Parece
que é mesmo a hora desse bicho pegar e/ou comer tudo o que é justo, honesto,
sadio, sensato, íntegro, correto, verdadeiro, bom, valoroso, sagrado, etc, etc,
etc.
Que bicho é esse que tem tamanho poder para simbolicamente conseguir
pegar e triturar tudo isto na cultura humana, desmantelando o verdadeiro bem
coletivo? O único bicho que conheço com poder simbólico de realizar tudo isto é
aquele que o Autor da Vida e Salvador do Mundo chamou de Dragão!
Como não me meto em política partidária e nem me comprometo com
ideologias políticas eleitorais quaisquer que sejam elas – mais à direita ou
mais à esquerda – exercerei meu dever de cidadania para votar nessa eleição
fazendo como sempre fiz, obedecendo rigorosamente a lei que diz: o voto é individual, intransferível e SECRETO...
Ah! Mas tem uma coisa! Que não deixa de ter importante conotação
política: seguirei defendendo a vida sempre, até a minha morte, não me importa
como ela me venha! Isto também eu não negocio, com ninguém. Antes, ser lançado em meu próprio túmulo, pela covardia da truculência alheia; que, pela injustiça do meu egoísmo, lançar quem quer que seja na cova da morte não natural, do aborto à eutanásia! Capiche?!