quinta-feira, 10 de julho de 2014

A vida parece uma piada...

*Colaboração Pe. Frei Flávio Henrique, pmPN

A vida, muitas vezes, parece uma piada mais ou menos engraçada, de tão sem graça...

Que graça pode haver, por exemplo, na covardia da violência contra os inocentes bebezinhos na barriga de suas mamães?

Nenhuma, é claro! Contudo, o engraçado, apesar dessa desgraça ser uma triste realidade cotidiana, é que ninguém suporta falar no assunto...

Temos que fazer uma ginástica “metaolímpica” para combater tão triste miséria coletiva com o recurso de piadinhas positivas e mensagens promocionais enaltecedoras da vida, para driblar o adversário na defesa e, quem sabe, se a zaga da violência não nos quebrar uma vértebra como fez com o moleque alegre do país verde amarelo, tentar cavar um pênalti no ataque do adversário truculento...

Que adversário??? Ué... aquele que ataca os bebezinhos no ventre de suas mamães... cujo nome não se pode pronunciar, senão, sai todo mundo de campo... jogadores do bem comum, comissão técnica da verdade, juízes de senso ético privado, torcedores da seleção da vida... não fica ninguém para contar a história da realidade...

Parece brincadeira, isto! Mas, o mais engraçado, é que é sério... muito sério!

A ginástica intelectual necessária para conseguir “correr” - sem perder o fôlego moral - a partida inteira da vida bem vivida, lutando contra o tal adversário - que não se pode dizer o nome sem que sejamos chutados para escanteio com bandeira vermelha e tudo (do sangue inocente não reclamado) - e com direito a tomar o cartão vermelho da indiferença sócio-política, é qualquer coisa para lá de tragicômica.

Mas, se não for assim, se não cavarmos um perigoso lance na intermediária do mal, com alegria na ginga para apresentar tema tão controverso, delicado e polêmico... não vai rolar... ninguém vai aderir...

Então, só resta mesmo treinar duro o jogo das palavras para vestirmos o uniforme da vida contra a seleção da morte, que no gramado da história, bate para derramar o sangue de muitos futuros craques, deixando a torcida tão corada de vergonha que ninguém se atreve a vaiar coletivamente, afinal, no fundo no fundo, o que todo mundo quer é ver a bola do humor rolar... e, se não houver o mal para o bem rir dele depois de vencê-lo debaixo de uma saraivada de pontapés covardes e insanos, que mérito haverá, para o espetáculo dos povos, o jogo da vida???

Para quê descortinar os véus dos sonhos, que cobrem os estádios das emoções bem humoradas das piadinhas engraçadas, aquelas que fazem ‘bombar’ os cliques nas redes sociais, e deixar a nu a franqueza da realidade e violentar o senso comum com a tempestade sinistra da realidade???

Já que é assim que pensam as massas, as galeras e até mesmo as tribos com algum compromisso ético com seu senso moral interno, então, deixa rolar essa pelada de craques uniformizados com a boca arreganhada de tanto rir da própria desgraça...

Se o horror dessas hediondas mortes não pode barrar na bilheteria das arenas do dia a dia, o sucesso insano dos kkkkkkkkkk que levam de nenhum lugar para lugar nenhum, então, resta entrar em campo com o uniforme do humor que satiriza o próprio humor, bailando risadinhas que promovam a vida enquanto se tenta escapar da sola maldosa que patrocina o time do qual não se pode dizer o nome, senão, todo mundo vaza... emburrado com a denúncia, invés de choroso com cruel verdade; vaiando a defesa da vida, invés de aplaudindo os defensores dela; enfim, fugirão todos...

Fugirão de quê?

Da pavorosa derrota causada pela omissão, invés de ajudar a vencer a luta pela sobrevivência daqueles que, ameaçados de morte desde o ventre de suas mães, nem mesmo terão o direito de um dia aprender a rir do próprio infortúnio, já que não lhes será facultado crescer o suficiente para escutar essa piada de mau gosto, que insiste em ser contada pelos ridículos egoístas, ao custo da inexistência dos que deveriam existir...

A vida, do ponto de vista em que tem que ser vivida, é realmente uma piada, não é mesmo?

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